Post feito em 28/07/2021
Os sistemas mecanizados de colheita reduzem os custos operacionais com maquinários e mão de obra, além de promoverem uma colheita mais rápida e com menor quantidade de impurezas. Graças a estes sistemas foi possível o cultivo de algodão de forma economicamente viável em grandes áreas na região central do Brasil.
Leia este artigo da Ag.In para conhecer os diferentes sistemas mecanizados de colheita e suas principais características.
A obtenção de fibras de qualidade a partir da pluma do algodão depende de dois conjuntos de fatores: fatores intrínsecos e fatores extrínsecos.
Os fatores intrínsecos dependem do potencial genético da cultivar, e podem ser influenciados por condições edafoclimáticas e do manejo da lavoura. Vários fatores interferem na qualidade da fibra produzida desde o plantio até o preparo pré-colheita.
Uma vez garantidas boas condições para iniciar a colheita, os fatores extrínsecos, que dependem do tipo de colheita utilizada, armazenamento e beneficiamento, são fundamentais para garantir boa qualidade e rentabilidade do produto.
A colheita é uma fase muito importante na cotonicultura, pois representa boa parcela do custo de produção. Além disso, impacta a margem de lucro em função de perdas quantitativas e qualitativas.
As colhedoras de algodão podem ser separadas em dois tipos: colhedora de fusos ou “picker” e colhedora de pente ou “stripper”.
A escolha por um ou outro tipo de colhedora deve levar em consideração aspectos relacionados ao espaçamento de semeadura, mecanismo de colheita empregado pela máquina, custo de colheita, custos de manutenção e qualidade do produto.
Independentemente do tipo de colhedora utilizada é importante que todas as fases do processo produtivo estejam adaptadas para receber a colheita mecanizada. As decisões de escolha de variedades, população de plantas, espaçamento, uso de reguladores de crescimento e maturadores exercem influência direta na eficiência da colheita mecanizada.
Conheça a seguir os dois principais tipos de colheita mecanizada!
Nas colhedoras do tipo “stripper”, os capulhos são retirados das plantas por meio do arranquio causado pela ação dos pentes e por um molinete. A colhedora atua como se fosse um grande pente, que arranca os capulhos inteiros da planta.
Este método é pouco utilizado no Brasil porque gera um algodão inferior, com maior quantidade de impurezas (brácteas, maçãs imaturas e demais partes das plantas). Por isso, o algodão colhido no sistema stripper demanda um sistema de pré-limpeza antes de ir para o beneficiamento.
Colhedoras do tipo stripper são mais utilizadas em sistemas de plantio adensado (espaçamento entre linhas menor que 76 cm) e ultra adensado.
Por outro lado, na colheita com o sistema stripper em espaçamentos adensados, ocorre menor ramificação lateral e as plantas atingem menor porte, o que aumenta a eficiência da colhedora e diminui a quantidade de impurezas.
Outro aspecto que favorece a adoção deste método é seu preço, considerado mais barato devido a simplicidade da operação de colheita dos sistemas tipo stripper. Outra importante vantagem é a menor perda quantitativa, principalmente em cultivos mais adensados, onde grande parte do algodão é coletada.
A altura ideal das plantas para obter um bom desempenho na colheita com colhedoras do tipo stripper varia entre 60 e 80 cm.
As colhedoras do tipo “picker” operam por meio de um dispositivo composto de fusos cônicos e estriados. Estes fusos giram em alta rotação e retiram, de forma seletiva, o algodão em caroço dos capulhos completamente abertos na planta. Os fusos são inseridos em barras com 12 a 16 fusos fixadas em tambores. Em geral, o tambor dianteiro retira 70 % do algodão e o traseiro retira 30 %.
Após serem retirados das plantas, a pluma é desprendida dos fusos por meio de desfibradores de borracha, denominados “doffer”, e levada para um cesto armazenador por meio de fluxo de ar.
Por ser mais complexo que o de pente, o sistema de fusos é mais caro. O investimento para a aquisição do maquinário é alto, e os custos com manutenção e regulagem também.
Colhedoras do tipo picker são tradicionalmente utilizadas em lavouras com espaçamento entrelinhas superiores a 76 cm. Contudo, já existem modelos apropriados para utilização em plantios adensados, com espaçamento entrelinhas de 38 cm. Em espaçamentos maiores as plantas ficam mais ramificadas e atingem maiores estaturas.
A colhedora do tipo picker apresenta melhor desempenho em lavouras com altura de plantas que variam entre 100 e 130 cm.
A grande vantagem das colhedoras de fuso está na qualidade da fibra. Neste método a pluma é colhida com menor quantidade de impurezas porque o maquinário é mais seletivo durante a operação. De acordo com a EMBRAPA, é por conta disso que este é o sistema de colheita mais utilizado no Brasil.
Se comparado ao sistema do tipo stripper, as colhedoras do tipo picker são mais caras, e geram maior perda quantitativa na colheita, pelo fato de colherem apenas plumas dos capulhos completamente abertos.
O máximo de perda quantitativa aceitável na colheita do algodão é de 10 %, sendo o intervalo de 6 – 8 % a faixa ideal.
No processo de enfardamento, o algodão colhido é preparado para o transporte até a unidade de beneficiamento. Nas colhedoras do tipo picker existem duas formas de enfardamento do algodão colhido:
Primeiro, o algodão colhido é retirado da colhedora quando ela atinge a capacidade máxima de armazenamento. Da colhedora, o algodão é colocado em um implemento denominado “bass boy”, que é acoplado a um trator.
Na segunda etapa, o algodão é transportado do bass boy até uma prensa que faz o processo de enfardamento do algodão. É necessário que a colhedora interrompa a colheita durante o processo de transbordo do algodão colhido para que ocorra o enfardamento.
Enfardamento do algodão com colhedoras picker modernas
Nas colhedoras picker mais modernas, o enfardamento é realizado na própria colhedora. Neste caso, o sistema de enfardamento utiliza um filme de polietileno para envolver e proteger os fardos. O processo permite que a máquina trabalhe de forma contínua, aumentando a capacidade de colheita.
Uma limitação deste método é a necessidade de equipamentos específicos para o transporte dos fardos até a unidade de beneficiamento.
As colhedoras com sistema de enfardamento acoplado são capazes de colher de 2 a 3 hectares/horas de colheita.
Veja como é funciona uma colhedora de algodão com sistema de enfardamento acoplado:
Como as colhedoras do tipo “picker” são as mais utilizadas em função da qualidade do algodão colhido, que melhora a rentabilidade do produtor, a escolha da máquina recai nos dois sistemas de enfardamento discutidos acima.
Os seguintes pontos ajudam na escolha da melhor colhedora em função da realidade de cada propriedade:
A colheita mecanizada do algodão é muito importante, e dependendo das condições em que for realizada pode impactar negativamente na qualidade da fibra produzida.
Para evitar perdas, é fundamental um bom planejamento de logística para uso dos equipamentos e gerenciamento de pessoal, além de um dimensionamento adequado para aproveitar ao máximo a capacidade das colhedoras.
A escolha do melhor método de colheita é dependente das condições da lavoura e do investimento disponível pelo produtor. É fundamental que seja feito treinamento e atualização periódica dos operadores das máquinas, bem como manutenção constante de todos os equipamentos para garantir máxima a eficiência da colhedora.
Texto: Rafael Oliveira – Engenheiro Agrônomo Dr.
Pesquisador Associado Ag.In
Revisão e Edição: Equipe Ag.In.