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Saiba mais sobre a resistência de plantas daninhas a herbicidas

Lucas Jacinto • nov. 17, 2023

Saiba mais sobre a resistência de plantas daninhas

Fotografia registrando um inseto bicudo-do-algodoeiro se alimentando do botão floral do algodão.

Plantas daninhas resistentes a herbicidas podem causar prejuízos de até 4 bilhões de reais em uma única safra.

A ocorrência de plantas daninhas é intensa desde o século XVIII, e as perdas causadas por seus impactos foram reconhecidas dentre os maiores limitantes de produtividade da agricultura ao longo da história.


Para tornar esse cenário ainda mais adverso, hoje, na agricultura moderna, temos o registro de uma quantidade considerável de plantas daninhas tolerantes ou resistentes a herbicidas. 

O que é a resistência de plantas daninhas a herbicidas?


De acordo com a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), o uso repetido de herbicidas com mesmo mecanismo de ação para controlar plantas daninhas, em um mesmo ciclo da cultura e continuado durante anos, sem a adoção de práticas de manejo para prevenir a resistência, é a principal causa do surgimento e dispersão de populações resistentes a herbicidas no Brasil.

Ainda segundo a Embrapa, a resistência é a capacidade adquirida por uma planta em sobreviver a dose registrada (dose indicada na bula) de um herbicida que, em condições normais, controla os demais integrantes da mesma população.

Histórico de resistência de plantas daninhas


No Brasil, o primeiro caso de resistência de plantas daninhas foi registrado nos anos 1970, com o uso repetido do herbicida metribuzin para controle de espécies daninhas dicotiledôneas em lavouras de soja.

Antes mesmo do lançamento comercial do produto, o leiteiro (Euphorbia heterophvtle) já era monitorado no campo. Esta espécie de planta daninha se mostrou de difícil controle durante os estudos de desenvolvimento do metribuzin.


Quando o herbicida foi disponibilizado, os produtores realizaram aplicações repetidas do produto, que acabaram selecionando populações resistentes de leiteiro.

Esse fato transformou o leiteiro no primeiro caso concreto de tolerância a herbicidas identificado no Brasil, e a principal planta daninha a ser manejada nas lavouras de soja na década de 80.

Para contornar a situação, foi lançado ainda nos anos 1980 outro produto no mercado para controlar o leiteiro – o herbicida imazaquin. Com características de controle altamente específicas, esse produto apresenta um único mecanismo de ação nas plantas - a inibição da enzima ALS (Aceto Lactato Sintese), que interrompe a síntese dos aminoácidos valina, leucina e isoleucina.


Como a enzima ALS é reconhecida cientificamente como passível de mutações frequentes, a evolução de resistência a esse mecanismo é rápida. Somada a alta frequência de leiteiro nas lavouras, o uso repetitivo do imazaquin pelos produtores por mais de dez anos também resultou na seleção de biótipos resistentes.
 

Dessa vez, além do leiteiro, o picão-preto também passou a não mais ser manejado por esse herbicida. Como consequência, áreas infestadas com leiteiro e picão-preto resistentes a herbicidas inibidores de ALS no Brasil, correspondiam a mais de 10 milhões de hectares até 2016.

Após os desafios com os herbicidas imazaquin e metribuzin, a indústria buscou uma nova solução para o problema das plantas daninhas resistentes. Nos anos 2000, ocorreu a introdução da soja transgênica resistente ao herbicida glifosato, conhecida como soja Roundup Ready, ou soja RR. A adoção por parte dos produtores foi imediata.

 

Apesar do cultivo da soja RR ter sido aprovado no país em 2005, a história dos produtores com essa tecnologia começou no ano 2000. Sendo cultivada com pouco acompanhamento técnico e nenhuma definição de práticas de manejo adequadas para a proteção da eficácia da ferramenta, o controle de plantas daninhas da soja passou a ser realizado praticamente apenas com glifosato.
 

Neste contexto, foi desenhado o mesmo cenário dos anos 1980 e 1990, agora com o glifosato. A repetição do uso deste único herbicida favoreceu a ocorrência de plantas daninhas resistentes e tolerantes, com uma pressão de seleção ainda maior.

Atualmente, as espécies registradas como tolerantes ao glifosato são:

  • Leiteiro (Euphorbia heterophvtle).
  • Poaia (Richardia bresiliensis).
  • Corda-de-viola (lpomoea spp.).
  • Trapoeraba (Commelina spp.).


As espécies que são consideradas resistentes ao glifosato, são:


  • Azevém (Lolium multiflorum).
  • Buva (Conyza bonariensis, C. canadensis, C. sumatrensis).
  • Capim-amargoso (Digitaria insularis).
  • Caruru (Amaranthus hybridus).

 

Confira fotos de algumas das principais plantas daninhas resistentes ou tolerantes ao herbicida glifosato:

Impactos econômicos da resistência de plantas daninhas


Os impactos econômicos da resistência de plantas daninhas podem ser notados em dois fatores: a demanda por herbicidas alternativos para controlar as plantas resistentes e a perda de produtividade ocasionada pela competição entre cultura e plantas daninhas resistentes. 

Custos dos herbicidas alternativos


O custo do uso de herbicidas alternativos varia de acordo com o nível de infestação e estágio de desenvolvimento da planta daninha. De acordo com a EMBRAPA, o custo total do manejo pode aumentar de R$90,00 para R$140,00 por hectare.

Ainda de acordo com a instituição, em um cenário comum em algumas regiões do Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul e Goiás, onde ocorrem infestações conjuntas de buva e capim-amargoso, o custo desse manejo pode chegar a níveis extremos, como o valor de R$ 446,00 por hectare.

Custos com competição entre plantas daninhas e cultura


De acordo com a literatura, avaliações em lavouras comerciais e relatos de produtores:

  • A buva pode reduzir até 65% do rendimento da soja.
  • O capim amargoso pode reduzir até 50% da produtividade da soja.
  • O azevém pode reduzir a produção de trigo em até 70%.


Além disso, analisando alguns dos principais estados produtores de soja no Brasil, conseguimos entender em números cheios o tamanho do impacto da resistência de plantas daninhas. Considerando redução de produtividade e custos com herbicidas, em uma única safra o estado do Paraná chega a gastar 2 bilhões de reais, enquanto o Rio Grande do Sul perde 4 bilhões com problemas de resistência de plantas daninhas.

Manejo de resistência de plantas daninhas


Para manejar a resistência de plantas daninhas, a recomendação é realizar um bom manejo de fato, com excelência operacional e resultados efetivos. Para isso, é preciso identificar as espécies na lavoura, atentando para o histórico de controle, para que não favoreça indivíduos resistentes.

Depois, o manejo pode ser definido, junto à época de aplicação e os herbicidas que serão adotados. Para a eficácia da aplicação, fatores climáticos e ambientais devem ser observados – tudo pode influenciar a performance dos herbicidas.  


Uma dica importante para a aplicação de herbicidas em períodos muito secos:

  • O produto precisa apresentar maior solubilidade e um residual prolongado. Plantas submetidas a estresse hídrico podem absorver herbicidas com dificuldade.
O manejo de resistência de plantas daninhas a herbicidas na prática


Para manejar resistência de plantas daninhas e evitar a seleção de espécies tolerantes e resistentes a herbicidas, as dicas são:


  • Arrancar e destruir plantas suspeitas de resistência.
  • Não usar consecutivamente herbicidas com o mesmo mecanismo de ação em uma área.
  • Fazer rotação de herbicidas com diferentes mecanismos de ação.
  • Realizar aplicações sequenciais de herbicidas com diferentes mecanismos de ação.
  • Fazer rotação de culturas.
  • Monitorar a população de plantas daninhas e o início do aparecimento da resistência.
  • Evitar que plantas resistentes ou suspeitas produzam sementes.
  • Usar práticas para esgotar o banco de sementes.


Para saber mais sobre plantas daninhas resistentes a herbicidas, bem como entender o manejo de cada uma delas, entre em contato conosco:

E-mail: contato@agin.agr.br
Telefone (WhatsApp): (34) 99824-1462.

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